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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Fogos

A estrada nunca acaba
E eu a observo o quanto posso
Pois ela nem imagina
Que acompanha minha angústia

O carro às vezes é quente demais
Mas sou grato pelo conforto
Pois ele nem imagina
Que carrega minha angústia

Os fogos de artifício explodem
E eu me pergunto
por que eu também não posso

Enviar um pedaço meu para cada canto
E nunca mais precisar estar em um lugar
Enquanto a cabeça está em outro

sábado, 14 de dezembro de 2013

18

Eles falam
Eu os ouço, sem querer
É o que sobra no fim do dia
A música para
Eu paro
Eles falam

Talvez exista gente que busque o barulho alheio
Quando apenas o celular é companhia
Quando a única voz rotineira
Vem dos fones de ouvido
Talvez não seja o único
Acompanhado na solidão

O copo cheio conforta
Ocupa
Acalma
O tempo entre o último gole até a chegada do próximo copo é o inferno
O último gole sempre vem

Porém as vozes alheias não incomodam
Percebo a alegria dos outros de longe
Ela me torna mais estranho
Mas me agrada
Sempre sou agradado pela alegria
De longe

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Please remember

O meu maior problema é a madrugada, algoz de todos os planos para o dia seguinte. Ela sempre proporciona pouco tempo para descansar e muito tempo para pensar.

Outra madrugada quente que ouço música no escuro de olhos abertos e encontro o sentimento escondido nos extremos. Penso em como as despedidas têm se tornado frequentes, mesmo sem terem sido anunciadas, e eu continuo aqui. Como as percepções mudam, como nossa capacidade de substituição é incrível, como aos olhos alheios eu amargo.

Eu observo. Observo como as árvores são verdes, como o céu é azul e as nuvens brancas, mas na minha lembrança é tudo cinza. Observo a rotina, a corrida desesperada por aprovação, a necessidade de uma boa imagem. Como ansiamos por mudanças sem mover um dedo. Na minha lembrança somos todos cinza.

Me questiono se ainda há tempo. Os anos passaram tão depressa e talvez eu realmente tenha amargado, insatisfeito com a terra firme, porém sem nunca ter tentado me arriscado em alto mar. Eu sigo desejando turbilhões e tempestades, que nunca saíram da minha cabeça.

A madrugada é meu maior problema. Ela parece ser eterna e no fim me obriga a ser banhado pelo sol.


Talvez não haja mais tempo, mas está tudo certo, eu continuo aqui.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Médio

"Médio" é uma palavra que define bem o ser humano.

Não conseguimos ouvir sons baixos demais e nem altos demais, temperaturas altas demais e baixas demais nos fazem mal. A total falta de consumo de alguns alimentos é prejudicial, assim como o consumo excessivo. Não temos a capacidade de enxergar coisas longe e nem perto demais.

Pessoas inteligentes demais têm problemas na vida, pessoas inteligentes de menos também. Ficar perto demais de alguém, assim como o afastamento demasiado, prejudica nossas relações. Nos cansamos de quem fala demais e julgamos quem fala de menos.

Não fomos feitos para o extremo e mesmo assim o esperamos, e nos frustramos. Talvez nosso maior defeito seja tentar lutar contra o equilíbrio forçado que a vida nos proporciona. Talvez fazer planos seja tentar ver muito a frente, o que não é o nosso forte. Talvez a nossa visão sobre "mediano" seja errada.

Todo mundo quer ser um sushi, enquanto o que realmente é agradável é o hamburguer.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Estrada

O ônibus estava há meia hora atrasado, o ar condicionado congelando - a jaqueta estava no colo, porém não devia ser usada - e o vazio estava lá. Há quase um ano aquela viagem não acontecia e me lembrou dos meus 17 anos, quando ela era feita quase todo mês. Me lembrou especialmente da viagem definitiva, a mudança.

No início de tudo eu nunca quis sair da cidade pequena, foi como se alguém puxasse as cobertas de um sono de 17 anos e me mandasse ir viver. Eu estava no ônibus, era madrugada e eu tinha medo do que viria e do que ficava, o único sentimento que até então eu nunca havia compartilhado com ninguém, foi a primeira vez que o vazio se fez notado. Havia preparado uma playlist especial só com as músicas tristes do Johnny Cash e, olhando para as estrelas, eu sorri naquele desespero silencioso.

Sei que nunca fui considerado uma pessoa corajosa, aventureira ou até expressiva desde que cheguei. Porém a coragem e aventura têm sido exercitadas desde o primeiro dia, elas só nunca tiveram a chance de sair de mim, a guerra sempre foi aqui dentro. E o vazio cresce junto comigo. Já tentei nomeá-lo e até ignorá-lo, gerando atitudes feias e dignas de reprovação, porém honestas. Talvez essa convivência não seja tão ruim, talvez eu ainda continue tentando achar uma justificativa que continue gerando erros, que certamente ainda serão honestos.

Mas lá estava eu novamente, 5 anos depois, e a madrugada pareceu a mesma. Lembrei das minhas infelicidades atuais e o vazio se sentou ao meu lado. A playlist era diferente, Elvis Costello cantava "I know this world is killing you", e dessa vez as estrelas também sorriram para mim. Afinal, além do frio, da tristeza e do vazio, era eu.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Fones de ouvido

Uma vez eu parei para pensar em como a maior parte da minha vida é acompanhada por fones de ouvido.

Saio de casa e a primeira coisa que faço é colocar os fones de ouvido, nunca fico sem eles no ônibus, no trabalho também os uso o dia inteiro. Chego em casa, sento na frente do computador e logo estou usando meu Siberia - inclusive ter comprado esses fones é um motivo de orgulho pra mim.

Talvez essa seja a forma que eu ache para me ocupar, já que passo bastante tempo sozinho. Mas isso implica em algumas coisas: nunca ouço as coisas ao meu redor (esses dias um senhor enfartou no ônibus e eu demorei para entender o que estava acontecendo), perco o barulho dos pássaros e essas outras pequenas coisas, não ouvi do que o rapaz que tentou me assaltar certa vez me xingou, não percebo pessoas se aproximando, não escuto quando alguém me chama, etc.

Resolvi abandoná-los durante o dia, na tentativa de ser menos desligado da vida. Comecei a perceber o que acontecia ao meu redor, mal ouvia as pequenas coisas boas e sim carros, escutei as conversas das pessoas, escutei quando alguém me chamava. Voltei a usá-los.

As vezes na vida a trilha sonora é mais interessante.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Comum

Você já pensou nas coisas da sua rotina que, de alguma forma, te marcam?

Lembro de 2009, recém mudado pra Curitiba. Eu tinha tanto medo de tudo e tentava me esconder tanto que nunca prestava atenção nas coisas. Certo sábado fui até a casa de um amigo, cheguei lá e descobri que ele passaria a tarde inteira fora. Lembro que havia alguma visita em casa e, pela primeira vez, eu não queria voltar. Decidi voltar caminhando, a distância era pouca e o caminho era basicamente uma reta, mas eu era tão perdido que de vez em quando ficava parado esperando um ônibus passar pra descobrir qual caminho tinha que seguir. Foi assim que pela primeira vez eu vi o começo da rua Padre Anchieta (pelo menos é o começo pra mim). As árvores formando uma cobertura no caminho que o biarticulado faz para chegar até a Praça da Ucrânia.

É bonito, mas não tem nada demais, porém foi a primeira vez que algo me chamou a atenção depois da mudança, também foi a primeira vez que senti vontade de tirar foto de alguma coisa em Curitiba (é claro que a foto ficou horrível e não tenho mais ela). Depois de um tempo conheci o Saint Patrick, que se tornou meu bar favorito, e passar pela Padre Anchieta caminhando acabou virando algo comum.

É engraçado pensar em como minha vida aconteceu naquela rua. A primeira vez, no dia do meu aniversário, quando saímos do bar em umas 10 pessoas pra tomar tequila na calçada do meu prédio. A última vez, com meu irmão e meu primo, comentando como aquele trajeto era importante pra mim. Aquelas árvores que formam a cobertura para o ônibus presenciaram tudo: as voltas acompanhadas, as voltas sozinhas, as voltas discutindo ideias ou falando sobre jogos, as voltas reclamando da vida, as voltas rindo à toa, as voltas chorando. Eu sempre me sentia confortável no começo daquela rua, sempre uma parte minha ficava lá.

Hoje as coisas mudaram tanto e talvez eu nunca mais faça aquele caminho andando, mas sei que as árvores estarão lá e que provavelmente a sensação sempre vai ser a mesma. O começo da Padre Anchieta é o cágado velho no topo da minha montanha.

domingo, 12 de maio de 2013

Sobre estar só

No início desse ano decidi começar a ler Walden, do Henry David Thoreau. Um livro que conta dos anos em que ele se afastou da civilização pra morar numa cabana na beira do rio Walden, onde sobrevivia do que conseguia da natureza. Uma história aparentemente fascinante, mas o livro foi um dos piores que eu já li - e  um dos mais demorados pra conseguir terminar. Porém um capítulo em específico me chamou a atenção e fez ter valido a pena a leitura, ele se chama Solidão e nele Thoreau me explicou o que senti a vida inteira. Ele diz: "Em geral estamos mais solitários quando saímos e convivemos com os homens do que quando ficamos em nossos aposentos. (...) A solidão não se mede pelos quilômetros que se interpõem entre um homem e seus semelhantes."

Desde que consigo me lembrar da minha vida, me sinto sozinho. Acredito que isso me fez começar um isolamento na adolescência. Me sentia sozinho na escola, em casa, nas refeições em família, nas viagens, etc. Anos passaram, passei no vestibular e saí da casa dos pais. Em Curitiba eu fiz amigos de verdade, mas a sensação ainda permanece: continuei me sentindo sozinho em casa, nas aulas, nas refeições. Me sentia sozinho até nas festas, o que me levava a andar até um lugar mais retirado e ficar sentado no chão pensando (o que sempre era seguido por alguém aparecendo e me chamando de estranho). Vieram a troca de curso e o trabalho, e a solidão se acentuou. Thoreau mede "estar acompanhado" de acordo com a qualidade das relações. Lógico que tenho momentos e pessoas que agregam muito pra mim, mas eles são raros. Principalmente os momentos.

É muito comum ler ou ouvir pessoas falando sobre como cresceram interiormente em momentos que se sentiram sozinhas. Concordo com isso, acredito que a solidão me impediu de ser um adolescente mongolão típico aos 15 anos de idade. Mas e quando isso deixa de ser benéfico? Posso contar no mínimo uns 18 anos de solidão e, em algum momento desse tempo, o desânimo surgiu. Sem ter hora, lugar e nem motivo o desânimo aparece. Inclusive num caso recente eu estava num bar com alguns amigos e fiquei desanimado do nada, fui ao banheiro pra pensar no que fazer. Voltei pra mesa e avisei que estava indo embora, dizendo que estava com sono e deixando todos confusos. Eu cheguei a me irritar por estar desanimado, cada vez mais. Até que a irritação se tornou tristeza.

Hoje em dia me sinto triste por ter que acordar, triste por ter que dormir. Triste por ter que sair de casa, triste por ter que voltar pra casa. Triste por estar sóbrio, triste por ter bebido. Não me recordo a última festa que não voltei triste nos últimos tempos. Fico triste por sentir que minha vida está na mesma há anos, fico triste por não ter resultados quando corro atrás. Fico triste por ter amigos compartilhando da mesma tristeza e não poder fazer nada pra ajudar.

No último mês eu decidi buscar ajuda. Tenho dito para as pessoas - e tentando me fazer acreditar - que está sendo bom, mas de alguma forma isso me entristece também.

Inclusive estou triste por não saber como terminar esse texto.