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terça-feira, 8 de maio de 2012

29885



29885 era sua identificação. Era mais um dentre vários outros. Montado e programado para o trabalho braçal. Já que, após a guerra contra os humanos, nenhum deles sobreviveu para fazer tal serviço de forma escrava.

Uma vez por semana, ele era transportado à central (esse tipo de palavra sempre combina com robôs) para manutenção. Onde era desmontado, recarregado, recalibrado e todo aquele procedimento chato que todo mundo sabe que os robôs passam. Toda a outra parte do tempo era trabalho braçal. E todos pareciam estar satisfeitos com isso, até por que eles não haviam sido programas para ficarem insatisfeitos.

A sociedade robótica não era muito diferente da humana. Haviam os populares e o excluídos. Mas o que define a popularidade entre vários indivíduos iguais? Existiam pequenas diferenças, por exemplo: o 16305, que possuía uma listra de ferrugem no braço esquerdo, era considerado o ancião, a voz da experiência pela moçada. Já o 23839 que, resultado de um tropeço, possuía um olho saltado, era considerado o bad boy, graças ao seu visual ~creepy~. O coitado do 29885 não era nada popular. Externamente comum, não chamava a atenção das robôs (feminino).

Grande culpa de sua impopularidade era a admiração pelas coisas dos humanos. Não há cabimento num robô fã de Black Sabbath! E ele, particularmente, achava um absurdo não ter ninguém pra conversar sobre Clube da Luta e discutir sobre a mitologia cristã. Mas ele não desistia de insistir nesses assuntos e tentar "converter" alguém.

Até que os outros robôs ficaram de saco cheio dele e o desmontaram de vez, por que robô de verdade não perde tempo.