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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Estrada

O ônibus estava há meia hora atrasado, o ar condicionado congelando - a jaqueta estava no colo, porém não devia ser usada - e o vazio estava lá. Há quase um ano aquela viagem não acontecia e me lembrou dos meus 17 anos, quando ela era feita quase todo mês. Me lembrou especialmente da viagem definitiva, a mudança.

No início de tudo eu nunca quis sair da cidade pequena, foi como se alguém puxasse as cobertas de um sono de 17 anos e me mandasse ir viver. Eu estava no ônibus, era madrugada e eu tinha medo do que viria e do que ficava, o único sentimento que até então eu nunca havia compartilhado com ninguém, foi a primeira vez que o vazio se fez notado. Havia preparado uma playlist especial só com as músicas tristes do Johnny Cash e, olhando para as estrelas, eu sorri naquele desespero silencioso.

Sei que nunca fui considerado uma pessoa corajosa, aventureira ou até expressiva desde que cheguei. Porém a coragem e aventura têm sido exercitadas desde o primeiro dia, elas só nunca tiveram a chance de sair de mim, a guerra sempre foi aqui dentro. E o vazio cresce junto comigo. Já tentei nomeá-lo e até ignorá-lo, gerando atitudes feias e dignas de reprovação, porém honestas. Talvez essa convivência não seja tão ruim, talvez eu ainda continue tentando achar uma justificativa que continue gerando erros, que certamente ainda serão honestos.

Mas lá estava eu novamente, 5 anos depois, e a madrugada pareceu a mesma. Lembrei das minhas infelicidades atuais e o vazio se sentou ao meu lado. A playlist era diferente, Elvis Costello cantava "I know this world is killing you", e dessa vez as estrelas também sorriram para mim. Afinal, além do frio, da tristeza e do vazio, era eu.

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